domingo, 7 de dezembro de 2014

Investigação descobre como facção de SP vende drogas no Nordeste

Durante dez meses, policiais acompanharam conversas telefônicas entre presos de diversas cadeias do Brasil planejando negócios e conseguiram mapear as rodovias e cidades por onde ocorre o tráfico de drogas antes de ser distribuída em diversos estados.  A investigação do MP mostrou também que a facção passava quase que diariamente orientações para os criminosos do Nordeste.

A operação começou no Rio Grande do Norte, onde a quadrilha atua desde 2010, e chegou a São Paulo, Paraná e Paraíba. Ao todo, foram decretadas 223 prisões: 154 criminosos já estavam na cadeia e receberam voz de prisão dentro da própria cela.
Segundo o superintendente da PF no Rio Grande do Norte, Marcelo Montenegro, a droga em do Paraguai, passando pelos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e chega na Bahia, de onde é distribuída para outros estados do Nordeste. "Também há uma rota que passa por São Paulo", diz Montenegro.
Durante a investigação foram apreendidas quase 20 toneladas de droga. “Nós temos aí 75 flagrantes nesses últimos 10 anos, produzidos a partir das informações do Ministério Público”, diz o superintendente da PF.
Gravações telefônicas e imagens ajudaram a polícia a identificar os líderes da facção. Um deles é Robson Batista Marinho, um empresário de Natal que comprava a droga em São Paulo e revendia no Nordeste, segundo a investigação. Em uma conversa gravada, ele fala com um rapaz que traz a droga de São Paulo de ônibus, que foi parado pela polícia. Com o suspeito foram encontrados 70 kg de maconha e cocaína.
Marinho não suspeitava que era monitorado há alguns meses e que, por isso, não conseguia receber a droga. Ele foi preso na última terça-feira (2). Questionado sobre seu envolvimento com a facção no momento da prisão, ele não respondeu.
A negociação esbarra em um problema já identificado pelas autoridades, mas ainda sem solução. “Dentro do presídio, com o telefone celular, eles controlam tudo. E, incrível, o telefone celular entra dentro. Se o Estado infelizmente não tem a vontade de enfrentar o crime organizado, resulta nisso aí”, diz o juiz da Vara de Execução Penal Henrique Baltazar.
“Isso é um problema de estrutura que existe quase em todas as unidades prisionais de nosso país. No Rio Grande do Norte não é diferente. Há uma necessidade de equipamentos nessas unidades prisionais. E, paralelamente, há uma política no país de que as operadoras de celular sejam obrigadas a bloquear os sinais de celular nesses espaços onde existem os sistemas prisionais”, diz o secretário de Estado da Justiça e Cidadania, Júlio César de Queiroz Costa.
Teleconferências do crime
O Ministério Público identificou seis presídios de onde os presos falavam sobre o comércio da droga para o Nordeste: dois eram no Rio Grande do Norte e outros dois, no Paraná, nas cidades de São José dos Pinhais, Piraquara e Uraí.
Em uma das conversas interceptadas, os presos discutem o batismo de um novo membro da facção e o preso que está ingressando tem que aceitar as regras. “Pessoas do Rio Grande do Norte, Paraná e Paraíba conferencionando, conversando entre si, programando crimes, organizando crimes e fazendo relatórios. É uma reunião presencial”, diz o juiz Henrique Baltazar.
As reuniões também eram feitas por mensagens de celular. Em uma conversa, um preso pede atendimento médico para um suspeito baleado fora da cadeia e avisa que chegará até “Marcola” se for preciso. Marcola é Marco Willians Herbas Camacho, apontado como chefe da quadrilha e que está preso em São Paulo.
“O membro do grupo sabe que, quando é preso, tem um médico particular para atende-lo. Faz parte do marketing, você está pagando aquela cooperativa”, diz o juiz Henrique Baltazar.
A investigação mostra que a estrutura ultrapassa as fronteiras do país, apontam as gravações. Em uma das conversas, presos falam sobre ações no Chile, na Bolívia e no Paraguai. “É uma organização criminosa a nível nacional. Se as secretarias de todo o país não se unem para combater esses grupos criminosos, isso é difícil funcionar”, acredita o juiz Baltazar.

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