Se o governo dos EUA ficasse tão ofendido quanto o da Coreia do Norte com a sátira sobre os dois países feita no filme "A entrevista", Seth Rogen e James Franco estariam realmente em apuros. Pela reação de hackers que saíram em defesa do país asiático, parece que o filme mira só no ditador norte-coreano Kim Jong-un. Mas o tiroteio é para todos os lados. O longa simula um encontro entre o que há de mais bizarro na cultura dos países: egolatria e culto a celebridades. "A entrevista" estreia no Brasil nesta quinta (29). Veja trailer acima.
À primeira vista, estão em universos distantes o vaidoso apresentador de um programa sensacionalista de TV nos EUA e o jovem ditador alucinado por poder após a morte do pai na Coreia do Norte. Mas Dave Skylark (James Franco) e Kim Jong-un (Randall Park) encontram na obsessão pelo reconhecimento e pelo próprio umbigo o elo para a relação de amor e ódio.
O encontro começa quando o competente produtor Aaron Rapaport (Seth Rogen, também codiretor e corroteirista) busca seriedade para o programa popularesco de Dave Skylark e consegue agendar uma gravação com o temido ditador. O governo dos EUA aproveita a inusitada viagem e agencia Aaron e Dave para envenenar o líder inimigo. Falta frieza aos personagens – tanto para o apresentador executar o plano da CIA quanto para o ditador dar uma resposta eficaz. De cara, viram melhores amigos. Depois, a relação azeda.
A ironia é que a parte do filme que retrata a cultura dos EUA é igualmente crítica e até mais engraçada. É promissor o início, quando Eminem se revela gay ao vivo no programa de Skylark, e a equipe comemora emocionada. Logo depois, eles tratam com a maior seriedade a cobertura da relação sexual entre Matthew McConaughey e uma cabra. Em outra edição do programa, é discutido o formato da vagina de Miley Cyrus. O fato de Jong-un ser fã de Skylark e de "Fireworks", de Katy Perry, deixa clara a conexão entre os países.
Tiro, porrada, bomba e escatologia
Tudo bem que James Franco faz um apresentador irritante. Mas sua atuação exagerada toma conta do filme. Rogen repete a função de "É o fim", "Vizinhos" e outros. Ele é o cara normal, de bom senso, que fica abismado com os desdobramentos surreais da aventura, mas não resiste a ser tragado pela demência. Ao chegar na missão na Coreia do Norte, "A entrevista" perde o fôlego do humor escrachado e apela só para tiro, porrada, bomba e escatologia. Nem em uma paródia de filme de ação cabem personagens e conflitos tão rasos.
Tudo bem que James Franco faz um apresentador irritante. Mas sua atuação exagerada toma conta do filme. Rogen repete a função de "É o fim", "Vizinhos" e outros. Ele é o cara normal, de bom senso, que fica abismado com os desdobramentos surreais da aventura, mas não resiste a ser tragado pela demência. Ao chegar na missão na Coreia do Norte, "A entrevista" perde o fôlego do humor escrachado e apela só para tiro, porrada, bomba e escatologia. Nem em uma paródia de filme de ação cabem personagens e conflitos tão rasos.
Rogen costuma fazer filmes melhores. Mas a quem o acusa de exagerar na trama rocambolesca e nos personagens inverossímeis, ele pode argumentar que "A entrevista 2" já está pronto. Na nova história, a insanidade de executivos de Hollywood é exposta após um misterioso ciberataque. O ditador da Coreia do Norte fica irado após sofrer o pior tipo de retaliação do século 21: corte de internet. O presidente Obama intervém na questão e é chamado de "macaco da floresta". A sequência, pastelão como o primeiro longa, está em cartaz na vida real.
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